Preconceito

Nunca vou esquecer do dia que meu preconceito me fez chorar. Eu tinha uns 12 anos de idade.

Talvez por coisas assim que eu não consigo respeitar quem diminui os outros.

Eu e mais dois amigos andávamos no calçadão aqui perto de casa quando vimos, saindo do meio do amontoado de cabeças, uma pequena pipa a uns 2 metros de altura. Ao contrário das pipas normais que são guiadas por linhas, essa era guiada por uma pequena haste de isopor.

Na época soltávamos pipa quase todo dia. Havia aquela disputa para ver quem era o melhor.

'Esse ae é principiante!'
'É, nem deve saber dibicar!'
'Principiante, principiante...'

E ríamos mesmo sem saber quem é que estava soltando aquela pipa.

Ao chegar um pouco mais perto, me senti o cara mais filho da puta de toda a face da terra. Mais filho da puta até que o Bush. Mesmo porque o Bush não era presidente ainda.

A cena era mais ou menos assim - Tinha um vendedor com algumas pipas amarradas e guardadas em uma bolsa, um pai com olhar carinhoso e um menino. Aliás, o menino. O rapaz tinha alguma deficiência mental e chorava, implorando ao seu pai que, desesperado, tentava fazer seu filho se acalmar.

'Por favor papai, por favor, eu quero a pipa, papai.'
'Mas você vai cuidar dela direitinho?'
'Vou pai, por favor...'

Não houve uma troca de olhares censurando um ao outro. Não houve um comentário idiota. Não houve nem sequer um risinho.

Nós três olhávamos para a mesma coisa - O nosso ridículo.

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